domingo, 22 de maio de 2011

Introdução

Após nossa viajem de Estudo do Meio, com destino a Brasília, sintetizamos neste blog as nossas principais impressões sobre a cidade, sempre baseadas nas falas de cidadãos do próprio Distrito Federal, sendo eles moradores do Plano Piloto (parte planejada e de boa infraestrutura da capital), ou das Cidades Satélites (periferia).
Ao decorrer do trabalho, unimos os aspectos da Brasília ideal e da Brasília real, criando pontos que nos fazem refletir sobre o processo de construção da cidade pelos candangos e sobre a vida dos moradores de diferentes classes sociais (no Plano Piloto e nas Cidades Satélites).

Época da fundação de Brasília

Na época da fundação de Brasília o presidente do Brasil era Juscelino Kubitschek, que havia iniciado o seu governo em 1956 com a promessa de realizar “50 anos de desenvolvimento em 5 anos de governo”. Para isso elaborou o que ficou conhecido como Plano de Metas, que pretendia integrar a economia brasileira ao capitalismo mundial. A intervenção do Estado era forte na economia e previa investimentos em infraestrutura, com a construção de hidrelétricas, redes de comunicação e transporte. Para viabilizar essas metas, o governo conseguiu atrair investidores estrangeiros, cujos capitais possibilitaram o desenvolvimento da indústria pesada, a produção de máquinas industriais e de bens de consumo duráveis.
Um dos compromissos de Juscelino era mudar a capital do Brasil, construindo uma nova cidade. Porém os objetivos de Kubitschek iam muito além de construir uma cidade utópica. Além do desenvolvimento industrial, os objetivos do governo previam um deslocamento do eixo político-econômico do país. Neste contexto inseriu-se a construção de Brasília, planejada para ser a nova capital do Brasil. O governo considerava que a cidade atrairia investimentos, que ajudaria promover o desenvolvimento no interior. A presença dos diversos órgãos do governo no interior funcionaria como um eixo da integração nacional. Geraria emprego, ocuparia parte da mão de obra nordestina desafogando a região centro-sul. A construção de Brasília expressava o desejo de modernidade, de igualdade defendida pelo estado. O Brasil pela primeira vez olhava para seu interior e não só para o oceano Atlântico e para a Europa. A transferência certamente forçaria o deslocamento de um contingente populacional e a abertura de rodovias trazendo maior integração econômica. Eliminar as classes sociais era um grande sonho, infelizmente esse objetivo não foi cumprido exceto durante a construção das cidades, onde todos compartilhavam das mesmas comidas e alojamentos.
No governo, Jucelino Kubitschek aprovou a construção de Brasília, tendo Lucio Costa como planejador urbanístico e Oscar Niemeyer como arquiteto.

O Projeto Urbanístico

O projeto urbanístico foi elaborado por Lucio Costa e a arquitetura por Oscar Niemeyer.  Aproximadamente 30 mil operários (Candangos) vindos de todas as regiões do Brasil, principalmente Nordeste, e mais de 200 máquinas exerceram o regime de trabalho dia e noite sem parar para construir e concluir Brasília até a data pré-fixada de 21 de abril de 1960. Tudo isso ocorreu durante o governo do então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, de 1956-1961.
O plano não eliminou a clássica estruturação espacial das grandes cidades brasileiras: o contraste entre as áreas centrais reservadas as camadas médias e às elites, de um lado, e as periferias populares, de outro. Mas operou uma transformação radical neste esquema, abrindo um espaço vazio entre a área central (o Plano Piloto) e a periferia (as cidades- satélites). O elevado preço dos terrenos no Plano Piloto empurrou os mais pobres para os núcleos urbanos satélites, que cresceram como verdadeiras cidades-dormitórios.
Assim que Brasília ficou pronta os trabalhadores (candangos) não tinham intenção de deixar a cidade, por isso as cidades-satélites, embora não estivessem formalmente previstas no plano desenvolveram-se para proteger este plano, evitando a concentração da pobreza no interior do Plano Piloto. Desta forma a capital cresceu como cidade polinucleada: uma única aglomeração urbana dispersa territorialmente em diversos núcleos separados. Estes são chamados de Regiões Administrativas, já que a constituição impede a formação de municípios autônomos no Distrito Federal.

Brasília antes e depois



Em 1960 a população de Brasília era de 140.165 mil habitantes. Já na década de 1970 o número de chegou a 537 mil, mais do que ela tinha sido projetada para receber, que era 500 mil habitantes. O crescimento médio anual foi de 8,1%.  Em 2010 a população era composta por mais de 2 562 000 habitantes. Durante o governo de JK o país apresentou elevados índices de crescimento: entre 1955 e 1961 a produção industrial aumentou 80% e o PIB cresceu a uma média de 7% ao ano. Além de ser centro político, Brasília é um importante centro econômico. A cidade é a 3ª mais rica do Brasil, exibindo um Produto Interno Bruto (PIB) de 99,5 bilhões de reais, o que representa 3,76 % de todo o PIB brasileiro.

A principal atividade econômica da capital federal resulta de sua função administrativa. Por isso seu planejamento industrial é estudado com muito cuidado pelo Governo do Distrito Federal. Por ser uma cidade tombada pela Unesco, o governo de Brasília tem optado em incentivar o desenvolvimento de indústrias não poluentes como a de softwares, do cinema, vídeo, entre outras, com ênfase na preservação ambiental e na manutenção do equilíbrio ecológico, preservando o patrimônio da cidade. A economia de Brasília sempre teve como principais bases a construção civil e o varejo.  Foi construída em terreno totalmente livre, portanto ainda existem muitos espaços nos quais se pode construir novos edifícios. À medida que a cidade recebe novos moradores, a demanda pelo setor terciário aumenta, motivo pelo qual Brasília tem uma grande quantidade de lojas. A agricultura e a avicultura ocupam lugar de destaque na economia brasiliense. Um cinturão verde na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno abastece a cidade e já exporta alimentos para outros locais.
Brasília está hoje entre as áreas urbanas de maior índice de renda "per capita" do Brasil.

Cidades Satélites

Cidades satélites é um nome que se dá para as regiões administrativas localizadas no entorno de Brasília. Elas não têm autonomia política e por isso, são dirigidas por administradores nomeados pelo governo local. Originalmente, foram planejadas para serem núcleos urbanos e para funcionar como cidade dormitório. Depois que Brasília ficou pronta o elevado preço dos terrenos do plano piloto empurrou os mais pobres para cidades satélites evitando assim a concentração da pobreza no interior do plano piloto.

As cidades satélites não possuem industrias e contam somente com serviços básicos de educação, saúde, comercio e lazer. A maioria da população ativa que reside nas cidades satélites trabalha no Plano Piloto onde a qualidade de vida é superior, a renda da população é maior e a maioria dos jovens estuda em escola particular. Esta população consome horas diárias em deslocamentos entre o local de moradia e o local de emprego.
O nível socioeconômico nas cidades satélites oscila, em algumas como Taguatinga e Ceilândia somos aproximadamente 65% das famílias tem renda de cinco salários mínimos e somente 17% de alunos em escolas privadas, já as cidades de Samambaia e São Sebastião tem um nível socioeconômico inferior com 60% das famílias com renda menor que 2 salários mínimos e apenas 0,4% dos estudantes em escolas privadas.

Brasília idealizada X a Brasília real

A vida dos moradores no plano piloto é bastante controversa. De acordo com os moradores entrevistados, o plano piloto oferece bastante variedades de lazer como cinemas, teatros, dentre outros, porém, os últimos são localizados muito longes e concentrados em determinadas áreas, dificultando o acesso dos moradores de algumas áreas do plano.. O mesmo ocorre com escolas e centros comerciais, que não são de fácil acesso para todos os habitantes do plano. O transporte público é deficiente, e não atende as necessidades dos moradores do plano, de se locomoverem o quanto precisam.
Os melhores índices de qualidade de vida do Brasil estão concentrados no plano piloto do distrito federal, uma vez que a infraestrutura é muito boa, os prédios muito bem construídos, a presença de uma escala bucólica e, conseqüentemente, de muita área verde. O custo de vida no plano é, portanto muito alto, gerando uma grande diferença de classes, entre os morados do plano e os moradores dos arredores.
As melhores escolas de Brasília, assim como a Catedral, e os centros político, econômico e judiciário, se localizam no plano piloto, deixando essa região mais valorizada, e deixando todos os moradores da capital dependentes do último (para morar, estudar ou trabalhar).

Os Candangos

Os Candangos, mão de obra responsável pra construção da capital, foram abrigados em barracas e depois transferidos para Taguatinga, primeira Cidade Satélite, criada em 1958. A obra, de grandes proporções, atraiu milhares de migrantes que invadiram áreas não 
destinadas à moradia. Taguatinga tornou-se modelo da exclusão dos mais pobres para a periferia. O Brasil real invadiu o plano utópico do urbanista Lucio Costa, que desejava que a cidade fosse fator de transformação da relação entre classes.
Nos dias de hoje há uma superlotação em Brasília. A cidade, que foi pensada para 500 mil habitantes, hoje abriga mais de 2 milhões. A minoria, de classe mais alta, vive no plano piloto enquanto a maioria vive nas Cidades Satélites, isolados.
Os moradores das Cidades Satélites moram a uma distância cautelosa do Plano Piloto. Para se “incluírem” no projeto da capital passaram a trabalhar lá, indo pela manhã e voltando pela noite, utilizando as cidades satélites somente para dormir. Com isso não ocorre interação entre os moradores das periferias e os moradores do plano piloto pois não freqüentam os mesmos espaços de lazer. A interação entre moradores das cidades satélites não ocorrem pois não cria-se a ideia e cultura de união.

Conclusão



Brasília, assim como outras cidades brasileiras, é dividida entre centro e periferia, onde os moradores da área central (plano piloto), possuem ótimas qualidades de vida e os da periferia, qualidades de vida muito precárias.
A previsão de cidades satélites para serem construídas após o plano piloto atinge o limite populacional planejada, acabou contribuindo para uma separação entre a realidade do plano piloto e das cidades satélites.
Por Brasília ter sido uma cidade planejado, a qualidade de vida dos moradores do plano é muito boa. Há muitas áreas verdes, infraestrutura e serviços adequados (grandes avenidas, aeroportos, segurança). Já nas Cidades Satélites o mesmo não ocorre.
Enfim, a mudança da capital atingiu alguns de seus objetivos, como tornar mais acessível o desenvolvimento a todas as regiões do Brasil. Porém falhou no objetivo de fazer com que pessoas de diferentes classes sociais convivessem e interagissem em Brasília de forma igualitária.

Entrevista 1 - Super Quadra


Entrevista 1:

“A questão da desigualdade social é muito grande. É quase a quarta cidade do mundo que tem a desigualdade social muito grande”



“Eu nem gosto de falar periferia, então, as cidades vizinhas estão cheias de defasagens, de problemas com a educação, com a saúde, muito grave..”


“Eu não me queixo da integração entre as pessoas. Eu acho fantástica. As vezes as pessoas acham diferente mas eu acho fantástica!”


“É uma cidade que exclui as pessoas”


“Eu gosto dessa cidade. Eu gosto muito dessa coisa ampla, que não determina de que família voce é, não pede seu currículo, não pede seu status”

“O aspecto da arquitetura dela (cidade) ficou muito elitizada”

Entrevista 2 - Rodoviaria


Entrevista 2:
“Ceilândia é conhecida pela violência, tráfico e essas coisas”

“Ceilândia, como eu posso dizer.. é mais bagunçada. Dizem que é a favela de Brasília”

“Tudo é aqui (plano piloto), tipo não tem show, não tem nenhum lazer. Tudo que você vai fazer tem que vir pro Plano: shopping, cinema, show, Mc Donalds”

“La tem shopping, mas a gente não pode contar com um shopping”


Entrevista 3 - Rodoviaria


Entrevista 3:

"nem sei qual é o salário minimo." 

"a maior oferta de emprego ta pra ca mesmo" ( Plano Piloto)

"nem todas oferece, mais a minha oferece" ( Lazer / Guara )

"emprego la muitas vezes não tem"

"custo de vida é mais barato do que no plano"


Entrevista 4 - Rodoviaria



Entrevista 4:


“A maioria trabalha aqui no plano piloto porque os órgãos se concentram mais no Plano. E lá nas regiões adminitrativas não tem quase emprego, a não ser o comércio, feira. Por isso que há tanto engarrafamento”


“Agora próximo da minha casa tem um parquinho, mas mesmo assim a falta de segurança impede que a gente leve nossos filhos para brincar”

“Não há interação porque as pessoas, por falta de segurança, tem medo de se interagir uma com as outras, desconfiando”

“E voce não fala com seu vizinho?”

“Não, eu nem conheço meu vizinho”

Entrevista 5 - Super Quadra



Entrevista 5:


“Aqui, o crime é bom, o trânsito ainda é bom”



“Aqui (superquadra) a gente tem pouca convivência. As pessoas vivem aqui somente em grupo”


“ origem é o inchaço que Brasília teve, devido a aquisição de terrenos”


“Aqui (superquadra) só reside quem é de classe media para cima”